Cartum da confusão + TEXTO

Modifiquei este cartum e o título do post devido a uma enorme confusão com odontólogos de todo o Brasil… O fiz atendendo ao respeitoso pedido do Dr. André Luiz Boaventura Borges, presidente da Comissão de Ética do Conselho Regional de Odontologia de Goiás (CROGO), que gentilmente me procurou para conversarmos a respeito do ocorrido.

Minha intenção com o cartum original foi fazer uma crítica a todos os maus profissionais de todas as áreas, que invadem a medicina utilizando brechas nas leis, muitas vezes sendo amparados por resoluções questionáveis de seus conselhos e sociedades. Desenhei um personagem com uma seringa apenas, sem estigmas, trejeitos, instrumental ou qualquer outra característica que identificasse sua profissão ou o procedimento que estava prestes a realizar. Poderia ser aplicação de algum preenchimento facial, poderia ser aplicação de toxina botulínica, anestesia para pequenas cirurgias da face e diversos outros. A intenção era um cartum genérico, em aberto, que pudesse servir como carapuça para todos aqueles se atrevem a brincar com o exercício da medicina.

Tudo correu muito bem, até que semanas depois da sua publicação, alguém se revoltou e iniciou um baita efeito manada virtual. De repente, odontologistas surgiram de todos os lados me acusando de desrespeitar sua profissão, dizendo que estava falando da Odontologia e da aplicação de “Botox.” Aproveitando a confusão, pegaram antigas publicações minhas falando sobre bichectomia estética e juntaram para colocar mais lenha na fogueira…

Muitos cirurgiões dentistas me xingaram, ameaçaram e passaram a me insultar com palavras de baixíssimo calão. Nunca recebi críticas de tão baixo nível em toda a minha vida. Fora isso, começaram a denunciar minha página e a organizar medidas legais junto ao CFM, CFO, CRMs, MP e tudo mais. A coisa tomou enormes proporções. Expliquei diversas vezes que eu não tenho nada contra a profissão deles, que o cartum era genérico, mas não adiantou… Sendo assim, atendendo ao pedido do CROGO, aceitei a sugestão de mudar a arte e me retratar para pelo menos amenizar essa situação.

Deixo claro aqui que não tenho nada contra os profissionais da odontologia, e que não quis em momento algum diminuí-los, insultá-los ou desrespeitá-los de qualquer forma que fosse. Sou um artista, um crítico acima de tudo. O que procuro com meu trabalho é levantar debates, discussões, polêmicas e troca de informações e experiências na medicina e na área de saúde. Toda esse repercussão em cima desse cartum poderia ter sido imensamente produtiva, mas o efeito não foi de todo o que eu esperava.

Vivemos num mundo no qual um cartum, uma tirinha, um simples desenho de um “cocô” pode causar enorme furor. Muitos não estão preparados para serem contrariados, criticados, ou instigados a refletir e debater.

Enfim, que fique claro meu apreço pelos odontólogos e todos os profissionais de saúde. Que fique claro que a minha briga é com os desonestos, charlatães e afins. Modifiquei o cartum porque nunca foi a minha intenção detonar toda uma classe de profissionais, e porque não vejo sentido em levar adiante uma briga que entrei sem a devida intenção.

Atenciosamente,

Solon Maia

cartum da confusao

Atendimento médico em pronto-socorro [ POST DEFINITIVO! ]

burnout

O atendimento de urgências e emergências é uma das áreas mais estressantes, perigosas e ingratas da medicina. Estou nessa há oito longos anos e hoje vejo claramente as consequências disso: O trabalho em prontos-socorros mudou a forma como vejo a medicina e os pacientes, me levou a um quadro de ansiedade e depressão, e  quase me fez abandonar a profissão. Hoje estou mais tranquilo, fazendo a minha residência de anestesiologia, e não é para ganhar mais do que antes, e nem para trabalhar menos… Minha meta é me livrar desse fardo que é trabalhar em PS!

Os médicos que encaram esse tipo de trabalho são heróis, e foi pensando neles que escrevi esses quatro posts como desabafo, reflexão e informação a respeito do tema. Reuni todos eles nesse único post para facilitar a leitura e divulgação.

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TEXTO 01: “Entenda o atendimento em um pronto-socorro”
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Trecho do texto: “Os serviços de saúde destinados ao atendimento de urgências e emergências são, em sua essência, problemáticos, tanto no setor público quanto no privado. As pessoas dificilmente tem o conhecimento e o preparo adequados para lidar com os protocolos, fluxos e padrões de atendimento preconizados e adotados em tais unidades de saúde. Aliado a isso, ainda temos grande parte dos usuários com os ânimos exaltados por fatores diversos, como dor, desconforto, ansiedade, medo, ignorância, prepotência, etc.”

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TEXTO 02: “O seu problema é realmente urgente?”
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Trecho do texto: “Ontem foi meu ultimo plantão de segunda-feira… Há alguns meses, numa segunda (dia internacional do atestado) logo após um feriado prolongado eu atendi um senhor de 42 anos (…) Depois de ficha aberta, José aguardou mais 33 minutos para passar pela triagem do hospital (…) O infarto era grave, jamais saberemos se ele teria chance de sobreviver, mas a chance foi tirada por: Jéssica, 22 anos, bronzeada do sol do feriado, atendente de telemarketing queixando de ROUQUIDÃO.”

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TEXTO 03: “Pronto-socorro na prática: Saiba como funciona”
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Trecho do texto: “O médico sai do consultório toda hora… Motivo 01: Ele precisa reavaliar pacientes em observação o tempo todo. Motivo 02: Ele é responsável por todos os pacientes que estão internados no hospital. Pode ser que ele tenha 100 ou mais doentes sob sua responsabilidade! Quando eles passam mal, o médico tem que ir tentar resolver o problema. Motivo 03: Por incrível que pareça, o médico precisa se alimentar, beber água, urinar e defecar. Sim, é verdade! Médicos precisam fazer essas coisas!”

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TEXTO 04: “A medicina de emergência é negligenciada no Brasil”
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Trecho do texto: “O profissional que trabalha num pronto-socorro fica sob estresse e pressão constantes. A imprevisibilidade do que vai aparecer, a falta de condições de trabalho e de segurança; a superlotação da unidade, as intercorrências das enfermarias; a falta de especialistas, de exames, de vagas de UTI, de ambulâncias para transportes; pacientes e acompanhantes enfurecidos e ameaças constantes. Isso enlouquece qualquer um. Pouquíssimos profissionais querem isso para a vida toda, fugindo da especialidade quando finalmente estão no auge do preparo para a mesma.”

A medicina de emergência é negligenciada no Brasil

emergencia

A medicina de emergência é aquela cujo médico, chamado de médico emergencista, tem como função diagnóstico e tratamento de qualquer situação imprevista, sem agendamento prévio, que esteja causando intenso sofrimento e/ou que tenha potencial para morbidade e mortalidade, se não abordada precocemente. Em suma, é aquele que trabalha atendendo urgências e emergências.

São dois os cenários principais: O primeiro e mais comum é o pronto-socorro (PS), foco principal deste texto, o outro é o atendimento fazendo resgate, como no caso dos médicos de unidades móveis do Corpo de Bombeiros, SAMU e forças armadas.

Embora desempenhem funções semelhantes, o emergencista é diferente do médico intensivista, que é aquele responsável pelo tratamento de pacientes em unidades de tratamento intensivo (UTI). O emergencista é aquele que tem o primeiro contato com o paciente, enquanto o intensivista atua num segundo momento, a depender da gravidade do caso.

Trabalhar com urgências e emergências pode ser bastante atrativo para estudantes e jovens médicos, mas a forma como esse profissional é tratado no Brasil, faz com que toda empolgação e interesse na área se transformem em agonia e sofrimento para o médico que se aventura no ramo.

Muitos consideram o trabalho em um pronto-socorro como o pior emprego que um médico pode ter. É muito comum ouvir dos profissionais da área que a principal meta em suas carreiras é mudar para áreas mais tranquilas e valorizadas da medicina. O porquê dessa aversão é o que pretendo abordar e, como de costume, dividi as diversas questões envolvidas em tópicos, para que o texto fique fácil e didático.

1)      A especialidade nem é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina:

No Brasil a medicina de emergência não é reconhecida como especialidade médica. Quando precisam de “especialistas” na área, recorrem a intensivistas ou a profissionais que fizeram cursos ou pós-graduações voltadas para o atendimento de urgências e emergências.

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