Pronto-socorro na prática! Saiba como funciona!

Burnout

O primeiro post sobre pronto-socorro foi muito bem aceito (LINK). Sua complementação, com o “Causo Médico” da colega Aline Lopes de Almeida, também foi de grande valia ao tema (LINK). Nesse terceiro post sobre o assunto, pretendo explicar como funciona o atendimento de urgências e emergências aplicado à rotina do médico e da equipe responsável.

Imaginem um plantão que começa às 19:00 horas.

Deixando o plantão: O médico que está saindo precisa de no mínimo uns trinta minutos para resolver as pendências do plantão e para reavaliar os pacientes que estão em observação. Exemplos: Verificar se saiu vaga para algum paciente, se ambulância está a caminho, se tal exame chegou, entregar receita e atestado para os que estiverem de alta, prescrever mais medicamentos para os que não melhoraram, solicitar mais exames, etc. Sendo assim, o atendimento vai diminuir, ou mesmo parar, antes que ocorra a troca do plantão. Após as 18:00 horas, pacientes que não forem casos graves, provavelmente serão atendidos pelo outro plantonista.

Assumindo o plantão: O médico que está chegando no plantão precisa saber tudo que está acontecendo ali. Primeiro receberá os casos passados do colega que estava de plantão, e depois reavaliará os pacientes em observação, que agora passam a ser sua responsabilidade. Ele ainda vai pegar todos os impressos que estão faltando no consultório, vai procurar saber na recepção sobre a disponibilidade de vagas de enfermaria, apartamentos e UTI. Vai perguntar se todos os exames estão sendo realizados, vai passar as coordenadas para recepcionistas e equipe de enfermagem. O atendimento provavelmente só começará de fato por volta das 19:30.

(Moral da história até aqui: Horário de troca de plantão, uma hora antes ou uma hora depois, não é um bom momento para se procurar atendimento caso seu caso não seja grave ou realmente urgente.)

Pacientes novos e retornos: O médico não tem motivos para te sacanear. Se um paciente entrou na sua frente, ou é porque a triagem assim definiu, ou porque o paciente era um retorno de um atendimento prévio. Tenha paciência. Seja compreensivo. Geralmente ele vai alternar pacientes novos e retornos para que haja um equilíbrio.

Seu caso é urgente e você precisa de atendimento rápido: Explique a situação na recepção, fale com o enfermeiro da classificação de risco (triagem) ou até aborde o médico se tiver oportunidade, mas não xingue, brigue ou ameace. Isso vai estressar a equipe, resultar em confusão, e até comprometer a qualidade do seu atendimento.

Você acha o médico lento, pois a fila quase não anda: Pode ser que pacientes mais graves estejam passando na sua frente, pode ser que ele esteja com um caso mais complicado, ou pode ser o curso natural do atendimento. Imagine 10 minutos para cada atendimento: Se tiverem 8 pessoas na sua frente, você esperará 1 hora e 40 minutos.

Você acha o médico rápido, pois ele te atendeu em 10 minutos: O médico que trabalha em pronto-socorro não tem tempo para longas conversas e enrolação. A história clínica e o exame físico tem que ser direcionados. Se você é saudável e está APENAS com dor de cabeça, mas com pressão normal e sem alterações neurológicas, ele não tem que olhar sua garganta, auscultar seus pulmões, palpar sua barriga e nem pedir qualquer exame. A fila lá fora está crescendo; pessoas impacientes, enfurecidas e passando mal precisam ser atendidas o quanto antes.

O médico sai do consultório toda hora:
– Motivo 01: Ele precisa reavaliar pacientes em observação o tempo todo.
– Motivo 02: Ele é responsável por todos os pacientes que estão internados no hospital. Pode ser – que ele tenha 100 ou mais doentes sob sua responsabilidade! Quando eles passam mal, o médico tem que ir tentar resolver o problema.
– Motivo 03: Por incrível que pareça, o médico precisa se alimentar, beber água, urinar e defecar. Sim, é verdade! Médicos precisam fazer essas coisas!

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